sexta-feira, 29 de maio de 2009

biografia XXXVII- infância

imersa nos
dias distante feito
oceano arraigada na

areia submersa
nela
mesma

alheia

transbordando dos olhos

forasteira

Ponta

Sentido

Moça

Poeira

herança

trazes as mãos tão
puídas cada
calo ronda teus
suplícios tuas
eternidades

cada homem que em
ti
existiu

atas entre teu
olhar e esta
terra devastada os
dias
mortos

cada aniquilamento que
abarcaste

tua substância ressoa nossa

permanência

Bicicleta

Pantanal.

Praça.

monólogo

por quais desvãos você
escapou que
madrugadas levaram seus
olhos pra
longe

que chuvas inundaram
seu
solo em quais
janelas você
se esqueceu

por que frestas seus
desejos esgotaram
se onde
você se
abandonou

em que dia
sossegado perdi
você

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Noite

Medo

Barcos.

Praia.

Ponto

casa.

acolher as canções de
uma vida
inteira nas

paredes herança
silenciosa do
tempo memória

cintilante espraiando se
nas ondas na
beira do
rio

um par de sapatos

um galinheiro tomado
de formigas

os homens se re
constroem em seus
alicerces

Roda

Muro.

ermo

dos olhos uma
descomunal
tristeza

espalhando se corpo
afora

escorrendo pelos
ombros roçando
os cabelos atravessando

o peito de um a
outro
extremo

feito terra devastada

Negros

Olá

promessa

o desejo inaugura a
manhã ensaia nos
cachos dos cabelos
soltos

aconchega se nas
sinuosidades do
corpo irradia se tarde
afora

circunda os olhos adentra
abismos arromba
impossibilidades atropela
se

e tomba sobre
si mesmo

aquoso

para Bi



uma ilha que
nasce dentro
do seu vestido* uma
luz

suntuosa no seu
decote

aquelas pernas
copiosas rodeando meus
sonhos as

mãos denunciando todas
minhas frestas

os imprevistos da
língua conquistando minhas
fronteiras seus

arrabaldes abrindo se nos
meus quintais

o prazer escorrendo no vão
da noite







* David Mourão-Ferreira

Ponte

Vôo

Nova Viçosa

quieto

calo a minha voz
nesta noite infindável.
só os meus olhos falam de ti,
mergulhados num lago.

Silvia Chueire




na beira do
mundo andarilho
de notas
vagas pendendo nas

bordas de seus
dedos

à margem dos
atalhos entregue
aos
dias

UFMG.

dor

em torno de
Liubomir Levtechev




tomados da fadiga
imemorial meus
pais regressavam ao
inexistente
lar
natal

sob seus
pés ruía a
carne rugiam
clarões fendiam a
terra
desamparada

perdidos em
guerras e parcos
horizontes meus
irmãos já
não olhavam para
trás

todos os dias os sóis
refaziam nossa desesperança

biografia XXXV - poesia

refazer inteira a
humanidade em cada
verso inspirar todos
silêncios

cada sulco do
mundo cobrir de
linguagem em
tudo tomar

parte inaugurar a
terra dia
a dia respirar o
inatingível

a palavra
obra em
mim

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Carmo

Praça II

Palácio

todas palavras

para Manuel Antonio Pina



não acredite nas que estiveram tão
perto feito uma
respiração nas que
desistiram nem

nas que jamais foram
ditas por
mim ou por
você nas que

se perderam

não acredite nas que me
lembro que roçaram em
vão a
memória que se

tornaram
desejo que fizeram
nascer e morrer a
manhã

depois do poema persiste
só o
silêncio

saudade

quando faço
poemas são seus
olhos que desenho em
minha
pele é sua

boca que me
silencia

são meus
versos cantando sua
voz escrevendo
por ventos tortos seu
corpo em minhas

mãos

encharco de palavras as
distâncias que trazem

você

sexta-feira

para Bi



o apartamento mais
uma vez vazio silêncio e
poeira nos
móveis

nenhuma voz nenhuma
carta vizinhos cada
vez mais
longe

neste dia sem
sentido interminável
noite somente a
certeza

de seu
sorriso faz
me suportar

Praça

fogueira

no vão da
janela seu
sonho insinua se entre
meus braços no

meio da
manhã escorre o
rio de seus
cabelos

procuro seu
gosto em cada
fresta seu
sorriso entre

nossas pernas nos
vales escuros dos
meus
ombros

arde um sol
imenso nesta
sofreguidão

Rio de Janeiro

Pantanal

biografia XXXIV - minas

caminhava entre
pedras recobria me de
montanhas branqueavam

meus cabelos enrugava
me a face profundos
vales

ansiava sertões dentro
de mim vertiam
cachoeiras inflamavam

meus olhos cresciam
vastas
angústias

a terra obra dentro
das
gentes

arraigado

não se extinguem as
marcas dos
dias as entranhas
escancaradas prá

sempre

o rastro da lua nas
veias os medos
assombrosos tantos
amanhecimentos

as pedras não
se dissipam as
mãos roçando
poemas abandonos

lonjuras
frestas
aridez

é eterna a
memória da
carne

Praia

Barcos

rendição

o silêncio tange o
sino de tão
leve ninguém
escuta

Nana Botelho



minha garganta
árida buscava o
silêncio abismal da
tarde os sinos

mergulhados
inteiramente
neles
mesmos

feito chuva fina tua
voz percorreu minhas
ruínas meus
angustiados escombros

teu olhar roçando a
noite luziu sobre
os telhados açoitou minha
aurora

para sempre todos
meus dias saberão a
teu
hálito

Inhotim II

terça-feira, 26 de maio de 2009

chuva


sofá
suco de uva
colo

brisa
braço de mar
amanheceres

para os meninos de rua

(Foto de Bianca R. Correa)

Jardim Botânico

irmandade

Sou homem: duro pouco
e é enorme a noite.
Mas olho para cima:
as estrelas escrevem.
Sem entender compreendo:
Também sou escritura
e neste mesmo instante
alguém me soletra.

Octávio Paz




um inominável
vazio ninguém nem
mesmo
estrelas

em silêncio meu
corpo ruge debate se nele
próprio nenhum
alívio

encalço minha
solidão na
extensão dos dias nada me
alcança

noite vasta em
algum lugar alguém
me
escancara

Inhotim

poço

não sei o que em
mim me
consome arranca as
superfícies o
que me

faz
angústia céu
despedaçando se todo

dia

o que queima a
pele revira faz
me fundo cratera imensidão
de sustos sempre

escava

o sabor da
morte na ardência do seu
sorriso

Muro

artesanal

a borda íngreme da
montanha uma curva de
repente na
estrada

um naco de sol na
tarde um
sonho alçando se no
horizonte

fios soltos do seu
cabelo sobre os
olhos lábios levemente
aliciantes

todas as noites que te
quis sob o
lençol manchado
de

entrega

caudaloso

para Nana



são todos os
rios que
procuro todos

os silêncios que te
imploro ainda

que as águas
inundem e nos
afastem mesmo

que não se
encontrem nossas

bocas nossas mãos
longínquas é no

fundo pedregoso que
resisto

bordas

o poema que
procurava escreveu
se inteiro nas suas
costas na

agonia da sua
boca

nos largos ombros da
noite no cheiro dos seus
atormentados
vãos enquanto

sussurava em seus
olhos abria suas
pernas

desenhou se na
lua abandonada entre
as estrelas perdidas no

silêncio miúdo do seu
choro

e descobriu
horizontes onde antes
precipícios

céu

cruzada

para Cecília



não espere grande
coisa destas tardes longas destes
eufóricos homens
cabisbaixos

ainda que ouçam nada
os transformará

não semeie em solo
pútrido tuas poucas
esperanças tuas
luas

mesmo que fertilize nada
brotará

são tempos sombrios e não
sabemos nem
de nós
mesmos

aqueça seu esconderijo
mansamente apenas

silencie

sábado, 23 de maio de 2009

Mariana-MG

Domingo

biografia XXXII - paradeiro

ainda conto nos dedos
de uma talvez
duas mãos tantas
parcas
alegrias

Alice caminhando ao
meu lado o orgulho
sereno de
Pedro teu
sorriso abrindo me a
manhã

as tristezas me arrombam
a porta todos
os dias tantas e tão

pavorosas que meu
corpo inteiro não consegue
alojar

miúdas e raras as
alegrias sustentam meu
olhar quando
aflito encaro meus
semelhantes

jamais sucumbiram na avalanche
inominável de seus
terrores

Pesca

solidão

(...) se vieres à minha procura
vem devagar e suavemente para não quebrar a porcelana da minha solidão.

Sohrab Sepehry




arrancar de onde já
não há mais qualquer
sentido onde jamais voltará

a ter

recriar por onde ninguém
jamais trilhou onde nunca
mais poderá

regressar

reconhecer se onde nada
mais pode
brilhar no

espelho cada vez
mais turvo de si
próprio

Fundo

silêncio

poucas luzes pequenas
palavras sons quase
inaudíveis

uma chuva fina na janela

pernas trespassadas por
pernas o ardido do vinho bocas
desgovernadas

vertigens de prazer descerradas dos olhos

corpo dentro de corpo línguas
avermelhadas soltas
pela casa

as paredes desfazendo se nas mãos


noite vagarosa cobrindo a janela

pequenas luzes poucas
palavras

Estruturas

limiar

para Bi


minha casa resplandece
inteira quando nela teu
sorriso
penetra

um fulgor no silêncio do
dia

e permanece tépida enquanto lá
fora tudo
escurece

minha casa se reveste de
sal quando nela teu
olhar se
embrenha

uma miragem na angústia da
fome

e continua nutrindo me enquanto
todos os homens
desesperam se

inundada de ti minha
casa jamais se
perde

biografia XXXI - esperança

agora já são grandes Pedro e
Alice e morreram as duas
árvores que
plantei

perderam se no
mundo os poucos
poemas que
escrevi esvaziaram

se de mistérios as
noites
de
solidão

o corpo ocupa se cada
vez mais das marcas
do tempo a chuva já não
incomoda procuro no

inferno das
ruas um
enorme
silêncio

sonhos perscrutam a
morte fraquejam logo
de manhã dói olhar prá

frente

Ouro Preto

ofício

o poema surge aos
poucos enquanto o
corpo confronta os
dias enquanto as

noites escurecem

aos encontrões rasgado na
pele na medida nunca
exata das
palavras enquanto a

vida procura por si
própria

o poema fecunda
diariamente a recusa
insípida
da morte

desmedida

tamanho medo imensa
solidão agigantando se sobre minhas
costas das coisas

perdidas ou não
conhecidas do
medonho

irreconhecível

das janelas eternamente
lacradas dos passos
mudos no

corredor vastidão
inebriada que ultrapassa tudo em
vazio

a casa me escapa todos
os
dias

UFMG

Bonito

perene

enquanto escrevo poemas
desatam se dias frágeis perdem
se entre uma e outra
palavra as mesmas
dores cotidianas perdas
intangíveis

as mãos ainda mais
ressequidas vertem versos
desamparados e
fantasias
indeléveis

nuvens formam a todo
momento árvores e
pedras nas

minhas janelas

lume

os dias se desprendem dos
dias cada vez mais
longos sempre mais

frios embrenhando se em
mim

pronuncio as nossas
palavras sob a sombra enevoada da
lua que devagar me

envolve

prendo me à vegetação de nossas
praias aos nossos intangíveis
sonhos

na tua voz
distante
aconchego minha

imensa

saudade

sexta-feira, 22 de maio de 2009

brechas

por onde traço meus poucos
passos o solo permanece
gretado os
olhos apenas sussurram
luas

os vales cada vez
mais estéreis minhas
periferias ardentes os

lábios sempre incitando
furacões

neste avassalador silêncio
que tudo
recobre apenas
resisto

desejo

algo desafia em
mim a ardência do seu
hálito do seu
cheiro

minha pele revive seu
abraço sua boca
mordida

diante de mim o dia
se espalha
desmedido
inapreensível

ruas enormes estradas
intransponíveis mares
traiçoeiros
tempestades

meus olhos sonham seu
sorriso
silencioso

algo desafia em mim a
vontade
apaziguada de
chorar

meu corpo sabe o tempo
inteiro só
de você

Horizonte

Belo Horizonte

Dança

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Tarde

tua voz
inaudível na minha
garganta meus
silêncios
angustiados

falta me tua
lua nestas noites
aterradoras falta em
mim teu
suor

atravessada do
estômago aos
olhos que já nem
rebrilham falta o
que de

mim já
nem

sei

felicidade

[...] um silêncio talhado
para o voo dum moscardo
[...]
tomba desamparado.

Eugénio de Andrade



desfaz se a névoa
dos dias
devagar
de meu

corpo uma
brisa
sussurrada quase
canção

um sorriso
pequeno insinuado entre
nuvens im
ponderável

sem hora pra chegar

fantasia

teu sorriso lua
infindável da minha enorme
perdição

quando todas as estrelas se
recolheram

teu poema se desenhando nas
memórias do meu
corpo

quando a noite inteira já
adormeceu

teus braços nossa
praia
deserta

quando já não há mais
porto

Azul

nuvens

quando achares sobre a
mesa o poema que fiz
pra ti estarei bem
longe

mas não
olhes para
trás

por séculos meus
versos ainda
falarão de tua
presença

porém a
poesia dissipou se de nossos
olhos

destino

todas as noites
padecem em meu
corpo quando
vais sei que não

voltarás nenhuma
manhã

cambaleio sem
direção corpo
exausto calado absolutamente
nada
restará quando
retornares

Mar

Árvore

melodia

um pouco de sol ainda
clareava a tarde quando a chuva
fina enxaguou a
poeira do
dia

e dormias sob os
lençóis

de madrugada fez se um
silêncio de nuvens
leves e a
lua rebrilhou nos meus
olhos enquanto

dormias sob os
lençóis

a manhã esbateu se
morna sobre as
janelas e o sol
discreto arrastou se em teus
pés e ainda

dormias

velando te meu
amor recostou se em teus
sonhos enquanto

dormias

sombra

a paixão espreitou minha
porta sorriu com teus
olhos fez me ouvir tão

perto tua
voz
distante ventou

impetuosa nos galhos das
árvores esqueceu se nos teus
cabelos assustou meus

pássaros que de
repente fugiram
de ti a

paixão aqueceu meu
corpo e sumiu mansa
mente

noturno

um resto de
poema escorrendo dos teus
olhos

emudecido

terça-feira, 19 de maio de 2009

Flor